Falar de amor em canções é uma prática tão corriqueira quanto necessária. Por outro lado, parece que coube à nova geração de compositores transcrever a contemporaneidade para a música. A urbanização, relações em novos formatos, o imediatismo de se viver tudo e agora e a individualidade. A tradução de tais características, pelo menos no trabalho de Tulipa Ruiz, vem de maneira leve e musicalmente divertida.

A cantora e compositora paulista vem mais uma vez a Porto Alegre para mostrar seu mais novo trabalho, Tudo tanto. Ela se apresenta amanhã no Opinião (José do Patrocínio, 834), a partir das 21h. Os ingressos, que custam entre R$ 25,00 e R$ 45,00, podem ser adquiridos nas lojas Trópico.

Assim como seu primeiro disco, Efêmera - considerado o melhor de 2010 pela revista Rolling Stone -, Tulipa assina, em Tudo tanto, todas as músicas, sozinha ou em parcerias ao lado de Criolo, Gustavo Ruiz, Luiz Chagas, Ilhan Ersahin, Tomás Cunha Ferreira e Caio Lopes.

A produção e o formato deste disco, por contar com o patrocínio do Natura Musical, foram mais fáceis para Tulipa, deixando-a mais à vontade no estúdio. “A gente conseguiu concretizar coisas que eram desejos meus no Efêmera. Em Tudo tanto, fiquei menos nervosa, além de ter sido mais prazeroso”, conta.

E tal deleite pode ser sentido no vocalize (frases musicais utilizadas como exercício para a voz) usado de forma desinibida e desapegada nas 11 faixas que compõem o disco, sobretudo em Víbora e Like this. Tulipa conta que desta vez pôde “brincar” em cima dos instrumentos. “Os arranjos de corda foram feitos em cima do que eu cantei. A melodia de um instrumento contribuiu para melodia da voz, que contribuiu para melodia dos arranjos. Usei a voz como instrumento, mais do que no Efêmera.”

Mesmo que atualmente exista uma forte inclinação de canções que expõem certo desconforto com a correria diária, sugerindo, desta forma, um pouco mais de calma, Tulipa não acredita que tal postura se trate de um movimento propriamente dito. “Acho que é reação natural do homem 2012. Então tem mais a ver com uma condição, e não da classe artística, uma questão contemporânea.”

A faixa Dois cafés, que conta com a parceria de Lulu Santos, por exemplo, trata do cotidiano e da necessidade de leveza. “O banco, o asfalto, a moto, a britadeira/ fumaça de carro invade a casa inteira/ algum jeito leve você vai ter que dar (...).” Mas Tulipa também fala de amor, como em É, em que ela diz que o amor deve respeitar o movimento das mudanças, da individualidade de cada um e das parcerias e uniões daquilo que cada um é. “Pode ser ou é/ de algum jeito a gente se deu bem/ com tempo pra respirar/ com tempo pra ser bem mais que dois (...)”

Além dos inúmeros shows e parcerias de Tulipa pelo Brasil afora - Céu, Marcelo Jeneci e Thalma de Freitas são apenas algumas delas -, a cantora também se aventurou pela Europa, em um tour que fez em 2011 - “uma grande responsabilidade” na opinião de Tulipa. “Exceto em Portugal, porque lá eles são apaixonados pela nossa música, você não precisa explicar quem é o Tom Jobim. Em outros países, você vira um pequeno embaixador da cultura do Brasil. Deveríamos prestar muita atenção e dar respaldo para estes artistas que saem daqui para divulgar a cultura lá fora.”

Tulipa acredita ter contado um pouco com a sorte, já que a música Efêmera entrou na trilha sonora do Game Fifa, da EA Sports. “Isso fez com que eu saísse um pouco da prateleira world music ou MPB e entrasse na do pop. Acabei atingindo um público novo.”

E ele, o público, é muito amplo. “Na primeira crítica que saiu sobre o meu trabalho, diziam que minha música comovia o mais durão dos homenzarrões. E eu recebo muito e-mails de crianças falando de minhas músicas! Eu gosto muito disso, de sair da classificação”, explica.

Ao lado de Tulipa, sobem ao palco amanhã, no Opinião, Gustavo Ruiz (guitarra), Luiz Chagas (guitarra), Marcio Arantes (baixo) e Caio Lopes (bateria). Ele é acompanhada ainda por um trio de cordas com viola, violino e violoncelo e por Juliana Perdigão no clarone e clarinete.